quarta-feira, 4 de maio de 2011


Parece-me que estamos nos vendendo por muito pouco. Sempre nos entregamos sem pensar duas vezes, mas quase sempre muitos se entregam sem pensar uma vez sequer. Henry Ford disse: “Pensar é um trabalho pesado demais, esta talvez seja a razão para tão poucos se dedicarem a ele”. Isto parece mais verdadeiro a cada dia. Pensar é o alicerce do bem mais intransferível do ser humano: a liberdade. Thomas Jefferson assim escreveu na Declaração da Independência dos Estados Unidos: “Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis (intransferíveis), que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade”. Porém, abdicamos desta liberdade ao permitir que os pensamentos e idéias enlatados e embrulhados nos dogmas, nas filosofias baratas, nas músicas insensatas da moda ou em quaisquer outras formas que determinam nosso julgamento pessoal. Estas formas se tornam opressoras, e estão presentes na política, na religião, na mídia, na arte, nos indivíduos de personalidades influentes, e acabam determinando nossa atitude passiva e, por fim, nosso conformismo e cumplicidade.
Lembro-me de uma história da qual não fiz parte, não a conheço muito bem, e que se processou num contexto muito traumático na história do nosso país: na época da ditadura. A época do auge da censura, a limitação da liberdade, do pensamento e de sua expressão. Censuras, acusações, prisões, exílios, torturas e mortes por meio de uma política opressora tentou se impor para dominar sobre as pessoas impedindo-as de expor seus pensamentos por meio da arte em suas várias formas. Mas, como se diz, a idéia é a força mais poderosa que existe, e, por ela vale muito sacrifício. Se é crime impedirem a nossa liberdade de pensar, não é menos criminoso dispensá-la por formas menos ou não violentas, mas igualmente opressoras. Ninguém tem o direito de dizer o em que devemos pensar e fazer os julgamentos que cabem a cada um de nós. Nem os líderes políticos, nem os religiosos, nem os civis, nem os familiares, etc.
Não posso deixar de lembrar de um trecho de uma música que foi muito importante para este período difícil do nosso país: “Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer”. Esperar é conformar-se com os modelos, dogmas, políticas, etc., impostos sem questionamentos; é não dedicar-se ao peso do trabalho de pensar, e deixar que outros façam isto por nós, e determinem nossas vidas, crenças, condutas, gostos. É a cultura sem cultura por falta do saber; a cultura da ignorância. Contudo, não nos tornemos culpados de transferir o nosso direito à liberdade de pensar para outros, para que sejamos sábios construtores de uma cultura inteligente e não omissa. Deixar os outros fazerem isto e esperar os resultados? Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

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